sábado, 9 de fevereiro de 2008

Poema primitivo

Não esculpirei meu sonho sobre as nuvens
pois que elas se perdem nos ermos do céu
e um dia voltam para molhar a terra.
Nem sequer o amianto me parece seguro
para guardar desse fogo a ânsia mais veemente
ou o delírio mais casto.
A poeira se esvai
e os que passarem a levarão consigo
embaixo dos sapatos
como os mortos a receberão sobre os olhos.
Na pele de um deus
não estará seguro
pois breve é o respeito dos homens
e o amor das mulheres.
Talvez na asa direita de um pássaro
ou no seu bico agreste.
No fundo mesmo do mar não estará seguro
pois que os ventos poderão arrebatá-lo
para atrelar sua força à cauda dos veleiros.
E assim não haverá lugar
onde escondê-lo.
Sonho que esculpirei então no tempo
que não é dos homens
e que morre e renasce a cada instante
no peito donde brota
a chama deste amor tão puro.

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