sábado, 9 de fevereiro de 2008

um desejo de fuga

Quem é que assim nos virou, de tal forma que, em tudo o que
façamos, estamos sempre na atitude de alguém que parte?

Rilke [As Elegias de Duíno]


Paulo Plínio Abreu nos evoca a uma sedutora variação de imagens, inclusive a não imagem, em uma escrita que transita pelo limiar do desconhecido, de onde nos traz os outrosvários da sua poesia, em pele, rostos, revelando uma escrita da intensidade que transita por fora da unidade e do discurso da representação se espraiando em lances de multiplicidades por onde atravessa o Polichinelo, o Comedor de Fogo, o Espantalho: uma verdadeira miríade. Figuras aliviadas do peso da identidade gravitando por fora de qualquer enunciado, fora do discurso ou reivindicação. Paulo Plínio nunca foi o poeta do lugar, passou alhures às alegorias do regional, sendo desde sempre o grande escritor da linguagem, do pensamento que combate em favor da palavra viva, criativa; da poesia lapidada de fio a fio, sem que combate em favor da palavra viva, criativa; da poesia lapidada de fio a fio, sem deus, sem razão, erguida na esteira da mobilidade. Assim o poeta esculpiu sua obra, escrevendo até o extremo de uma atmosfera outra, num desejo intenso de fuga; escrevendo até alcançar a escrita essencial. E tudo suportou para se aproximar do horizonte dessa experiência, tudo, até mesmo o risco da morte: Um dia eu descerei verticalmente e para sempre/ao fundo deste mar onde ela mora/como um barco de pescadores desaparecidos [A estranha mensagem]. Ler Paulo Plínio é confessadamente navegar no coração desse risco e experimentar em cada frase o limiar do seu vôo: Eu subi do fundo do mar como um líquen liberto/para ouvir a sua voz que era imensa/e trazia a ansiedade das flores explodindo,/mas só vi o silêncio enorme como a noite./ E ela chorou dentro de minha tristeza/porque era como a revelação do que eu havia perdido [A estranha mensagem]. É desse lugar que jorra a força da sua poesia, é desse silêncio que cintila a potência da sua voz; voz atravessada entre o suave e o precário; voz de um homem que não se viu, que tombou nas entranhas da literatura e desapareceu na noite. Paulo Plínio Abreu foi um dos poucos a responder ao anseio de Paul Valery: morrer sem confessar. Morreu em silêncio, nem uma palavra, poucas pistas, somente a sua poesia. Poesia que nunca cedeu.


nilson oliveira

3 comentários:

Tayná disse...

Paulo Plínio Abreu é um poeta maravilhoso. Pena que é pouco divulgado... Eu o conheci num grupo de estudos sobre Literatura que participo na UEPA. Muito legal a sua iniciativa de criar esta página sobre este autor... Um abraço.

Anônimo disse...

Parabéns por ter criado este blog,através dele eu conheci a bela poesia de Paulo Plinio Abreu e eu traduzi para meu idioma,o castelhano.

Amigo do

Jandey Marcel Solviyerte

Medellín,Colombia.

Anônimo disse...

Parabéns por esse espaço literário. Viva a poesia do PPA!

Um abração!

Eduardo Rocha